Encontrei numa caixa velha, no meio de muita quinquilharia, meu caderno de poesias.
Bateu uma vontade de reler aquelas linhas escritas no auge da minha adolescência, lá pelos meus quatorze anos.
Quanta paixão, quanta dor, quantas palavras de amor.
Foi um encontro comigo mesma, cheguei até a sentir aquelas emoções vividas por uma garota tímida e sensível.
Incentivada pelo meu marido resolvi criar um blog e aqui estou... Espero que gostem.
Benvenuto, sejam todos bem vindos!

sábado, 22 de outubro de 2011

O peso que a gente leva

O perigo da viagem mora nas malas.
Elas podem nos impedir de apreciar
a beleza que nos espera.

Experimento na carne a verdade das
palavras, mas não aprendo.
Minhas malas são sempre superiores
às minhas necessidades.

É por isso que minhas partidas e chegadas
são mais penosas do que deveriam.

Ando pensando sobre as malas que
levamos...
Elas são expressões dos nossos medos,
Elas representam nossas inseguranças.

Olho para o viajante com suas imensas
bagagens e fico curioso para saber o que
há dentro das estruturas etiquetadas.

Tudo o que ele leva está diretamente
ligado ao medo de necessitar.
Roupas diversas: de frio, de calor- o
clima pode mudar a qualquer momento!

Remédios, segredos, livros, chinelos,
guarda-chuva- e se chover?
Cremes, sabonetes, ferro- elétrico-
isso mesmo!
Microondas? - Comunique-me, por
favor, se alguém já ousou levar.
O fato é que elas representam nossas
inseguranças.

Digo por mim- sempre que saio de casa
levo comigo a pretensão de deslocar o
meu mundo.
Tenho medo do que vou enfrentar.

Quero fazer caber no pequeno espaço a
totalidade dos meus significados.
As justificativas são racionais.

Correspondem ás regras do bom senso,
preocupações naturais para quem não
gosta de viver privações.

Nós... nos justificamos.
Posso precisar disso, posso precisar
daquilo...

Olho ao meu redor e descubro que as
coisas que quero levar não podem ser
levadas.
Excedem os tamanhos permitidos.

Já imaginou chegar no aeroporto
carregando o colchão para ser despachado?

As perguntas são muitas...
E se eu tiver vontade de ouvir aquela
música?
E o filme que costumo ver de vez em
quando, como se fosse a primeira vez?

Desisto, pego o que posso no espaço
delimitado para minha partida e vou.
Vez em quando me recordo de alguma
coisa esquecida, ou então, inevitavelmente
concluo que mais da metade do que eu
levei não me serviu pra nada.

É nessa hora que descubro que partir é
experiência inevitável de sofrer ausências.
E nisso mora o encanto da viagem.

Viajar é descobrir o mundo que não temos,
É o tempo de sofrer a ausência que nos
ajuda a mensurar o valor do mundo que
nos pertence.

E então descobrimos o motivo que levou
o poeta a cantar"Bom é partir, Bom mesmo
é poder voltar!"
Ele tinha razão, a partida nos abre os olhos
para o que deixamos.

A distância nos permite mensurar os espaços
deixados.
Por isso, partidas e chegadas são instrumentos
que nos indicam quem somos, o que amamos
e o que é essencial para que a gente continue
sendo.

Ao ver o mundo que não é meu eu me reencontro
com desejo de amar ainda mais o meu território.
É consequência natural que faz o coração querer
voltar ao ponto inicial, ao lugar onde tudo começou.

É como se a voz identificasse a raiz do grito, o
elemento primeiro.
Vida e viagens segue as mesmas regras.
Os excessos nos pesam e nos retiram a vontade
de viver.

Por isso é tão necessário partir.
Sair na direção das realidades que nos ausentam.
Lugares e pessoas que não pertencem ao contexto
de nossas lamurias...
Hospitais, asilos, internatos...

Ver o sofrimento de perto, tocar na ferida que
não dói na nossa carne, mas que de alguma
maneira pode nos humanizar.

Andar na direção do outro é também fazer
uma viagem.
Mas não leve muita coisa não tenha medo
das ausências que sentirá.

Ao adentrar o território alheio, quem sabe
assim os seus olhos se abram para enxergar
de um jeito novo o território que é seu.

Não leve os seus pesos, eles não lhe permitirão
encontrar o outro.
Viaje, leve, leve, bem leve.
Mas se leve.


(Padre Fábio de Melo).

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